sexta-feira, 15 de abril de 2011

Ainda sobre astrologia


Astrologia será um tema recorrente aqui... A objeção de hoje é sobre seu fundamento e alguns detalhes técnicos, com um pouquinho de história.

Nos imaginemos vivendo no Egito antigo, há muito tempo... Nossa espécie deixou de ser nômade, com tribos de caçadores e coletores, e começou a ficar num mesmo lugar. Para isso, tivemos que plantar e colher. Mas quem já plantou e colheu sabe que existem épocas boas para plantio. Numa região desértica e plana, como a banhada pelo Nilo com suas enchentes anuais razoavelmente previsíveis, era uma questão de observação para se concluir que esses fenômenos não eram aleatórios, ao capricho dos deuses, mas seguiam um ritmo cíclico. E isso dá a possibilidade de se prever o futuro, para que as sementes estivessem prontas, assim como as ferramentas e a mão de obra, no momento apropriado.
Então a questão estratégica teria que ser conseguir prever de antemão QUANDO ocorreriam as próximas enchentes ou, na melhor das hipóteses, quando seria a época de enchentes e, na seqüência, a de plantio.
Aí um esperto fica olhando para o céu e consegue observar alguma regularidade, traçando paralelos com a regularidade da terra. Na mesma época, ano após ano, as estrelas readquirem o mesmo padrão mais ou menos no mesmo horário, sempre acompanhado do mesmo tipo de clima aqui embaixo. Então, com mais observação se descobriu o seguinte: quando uma estrela particularmente brilhante aparece no horizonte logo antes do amanhecer, falta um mês para o início das cheias. Essa estrela é Sírius (Alfa Canis Majoris).
Sírius, conhecida no antigo Egito como Sopdet (em grego: Sothis), está registrada nos mais antigos registros astronômicos. Sothis era identificada com a deusa Ísis grande, que formavam parte de uma trindade com seu marido Osíris e o filho Horus. Ora, os povos antigos possuíam uma ligação religiosa com os astros. Além disso, existe a máxima de que se um evento ocorre depois de outro, foi por ele causado. Junte A com B e temos uma cultura que acredita que as enchentes ocorrem porque a estrela (um deus) apareceu.
Daí que se uma estrela (vamos excluir o sol nessa categoria pois nesse caso procede e não há nada de sobrenatural nisso) influencia o clima e nos devolve como bênçãos uma colheita farta, nada mais óbvio do que acreditar que o conjunto de todas as estrelas regem TUDO que acontece no mundo – incluindo nós. Ah, quantos erros são cometidos pela generalização...
Só que a coisa complica... As cheias do Nilo ou estão ou não, o clima ou está seco, quente, úmido, frio...Tudo isso ocorre – hoje sabemos exatamente por que – em sincronia com as posições aparentes dos astros no firmamento. Mas os seres humanos são muito mais ricos em detalhes, e seus comportamentos não seguem as estações do ano. Ah, mas isso também tem paralelo no espaço: existe um pequeno conjunto de estrelas que se movem no céu – os chamados 'planetas' (do grego, 'errantes'). Bom, só precisamos de estudos mais detalhados para conseguir prever o comportamento das pessoas com base nesses objetos que, assim como os humores humanos, ora estão a favor, ora contra.
Então, passamos a observar cada vez melhor o céu em busca dessas leis que governem nossas vidas. Mas não é fácil... os dados não se encaixam, as previsões não dão muito certo...
Mas a culpa é da falha na observação, é claro... Assim, passamos a construir modelos matemáticos cada vez mais complexos do funcionamento do cosmo, observamos com rigor e precisão crescentes... e nada.
A coisa só passa a dar certo quando se coloca um especialista em interpretação no lugar. Aí, a discussão volta ao post anterior aqui do blog.
E que pena... é tão mais fácil não fazer as coisas direito e botar a culpa nos astros... “Mas eu nasci com [escolha um planeta] em [escolha um signo] que estava em [conjunção/oposição] com o meu [escolha o planeta] natal e é por isso que sou assim...
Olha, eu diria que isso não passa de transferência de responsabilidade. Dr House diria que todo mundo mente e que no fundo o que se quer é só tirar o c# da reta...

Nem tudo é ruim, felizmente. As ciências - matemática e física principalmente - ganharam muito com todo esse empenho. Mentes brilhantes estudaram a fundo os movimentos dos astros e avançamos muito. A sorte é que os cientistas conseguiram separar a ciência da superstição, e a busca pela compreensão do funcionamento do cosmos é hoje uma das áreas de estudo mais fascinantes da física.
Mas isso é assunto para outro post.... Aguardem! 

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