quinta-feira, 14 de abril de 2011

Considerações astrológicas


Ah, os astrólogos...
É engraçado como a astrologia se considera 'ciência'...
Mais engraçado ainda é ver como os astrólogos não fazem ideia do que seja 'ciência', ao afirmar que a astrologia o é. Até pode ser que há dois mil anos atrás astrologia, astronomia, medicina, engenharia e tudo mais fizesse parte de um mesmo conjunto, até de repente denominado “ciência”(que significa “conhecimento”).
Entretanto, há algum tempo - nem sei quando foi isso, mas faz tempo – esses assuntos foram tomando cada um o seu rumo. Na física, podemos citar Galileu Galilei como o responsável pela introdução de métodos que hoje consideramos como científicos, embora foi o pensamento de Descartes que originou a metodologia científica. (Considere ler 'O Discurso do Método').
Para mim, o método científico nada mais é do que a lógica aplicada à ciência. O que se espera do método é:
1 – Observação. O fenômeno deve ser observável (parece óbvio, mas se desejamos um discurso científico, tem que estar explícito);
2 – Descrição. O experimento precisa ser replicável (capaz de ser reproduzido);
3 – Previsão. As hipóteses precisam ser válidas para observações feitas no passado, no presente e no futuro;
Existem mais itens, mas o que basta para esse assunto está aí.
A partir dos princípios, conclui-se que se um experimento da resultados diferentes cada vez que é reproduzido, indica que está faltando alguma coisa. É muito comum isso acontecer e o procedimento é ir isolando as possíveis causas até que o problema se enquadre. Sem isso, não há ciência.
Essa questão da reprodutibilidade é essencial. Inclusive, quando se publica o resultado de uma experiência, logo em seguida aparecem outros tentando reproduzi-la para confirmar ou refutar o resultado. E basta um resultado contrário para derrubar tudo. Óbvio, como tudo é feito por seres humanos – e cientistas costumam ter egos gigantescos – existirá uma acalorada discussão sobre quem é que tem razão, qual experimento é que está correto. Mas, quando se conclui que uma hipótese está errada, a comunidade toda a descarta.

E onde anda a astrologia nessa? Bom, ela simplesmente ignora todo o método científico. OK, é um direito. O que não é direito é chama-la de ciência mesmo assim.
Eu tenho muitas objeções astronômicas (pun intended) à astrologia. Vamos lá:
  • É dito que o horário do nascimento é importantíssimo. Desvios de minutos já dão resultados diferentes. Isso é a explicação para a diferença entre gêmeos. Mas espera aí: Isso pressupõe que TODOS os relógios de TODAS as maternidades estejam em sincronia e que todos os obstetras ou seja lá quem faz isso anotem exatamente o momento do nascimento. Como sair dessa?
  • Ainda sobre a questão do horário. Quando se faz um mapa astrológico, o que se usa como dados são o local de nascimento, a data e a hora. Bom, com isso observamos que dois dos movimentos da terra estão sendo levados em conta: a translação (data) e rotação (hora). Com isso e a posição do observador pode-se calcular a posição dos astros (estrelas e planetas) naquele momento e do ponto de vista daquele observador. Mas e quanto aos outros movimentos da Terra? OK, esses dois são os principais e os demais causam muito pouca alteração. Mas será que é suficientemente pouco para ser desprezado para quem alega que "pequenas diferenças de horário geram grandes diferenças astrológicas"? Analisemos um desses movimentos, a precessão de equinócios. Ele é causado pela inclinação do eixo de rotação da Terra contra o plano de translação ao redor do Sol e faz com que a Terra gire como um pião prestes a cair. Essa precessão leva cerca de 26 mil anos para dar uma volta toda, o que dá uns 2200 anos para cada signo zodiacal. E daí? Façamos as contas: São 30 dias por mês, 2200 anos por mês... A cada 73 anos as posições dos astros se deslocam UM DIA. Melhor ainda, a cada 18 dias as posições dos astros adiantam UM MINUTO. Alguém aí sabe me dizer se os astrólogos ajustam suas tabelas a cada 18 dias?? É um desvio um pouco grande demais para ser descartado, principalmente por quem exige minutos de precisão.
As outras objeções são puramente científicas. Como disse, basta uma observação que conflite com a teoria para que esta seja descartada. E quanto às 'previsões' astrológicas? Quem aí viu algum astrólogo rasgar o mapa astral ou quebrar o incenso ao meio (aquele que está na frente do duende de Durepoxi) quando uma previsão não ocorre?
- Ah, os astros inclinam mas não determinam.
Que frase bonita para dizer “se deu certo, é porque estava certo. Se deu errado, é porque tinha mais alguma coisa influenciando”.
Previsão boa é assim! Acerta mesmo quando erra...

E tem a dos 'cálculos complicados'. Alguém já viu como se faz? São tabelas de efemérides e um pouco de trigonometria. Complicado???? não para quem fez ensino médio.
- Ah, mas o mapa é fácil, o difícil é a interpretação correta.
Sim, concordo. Mas para interpretar não se usam cálculos, e é daí que vem toda a magia: A interpretação. Para prever o futuro se observa linhas da mão, conchas, números calculados de tudo que é jeito e – é claro – as posições dos astros.
Ah, as estrelas, os planetas, a imensidão do Universo... É tudo tão lindo, distante, grandioso, celestial, que é impossível resistir à tentação.
Mas vamos às previsões. Carl Sagan dá um exemplo de uma previsão. Imagine que, neste caso, essa seja uma análise astrológica da SUA (é leitor, a sua mesmo) personalidade. Leia e veja se concorda pelo menos parcialmente:
“Às vezes você é extrovertido, afável, sociável, ao passo que em outras ocasiões é introvertido, desconfiado e reservado. Descobriu que não vale a pena ser demasiado franco e revelar-se aos outros. Prefere certa dose de mudança e variedade, e fica insatisfeito quando tolhido por restrições e limitações. Aparentemente disciplinado e controlado, você tende a ser ansioso e inseguro por dentro. Embora tenha algumas fraquezas de personalidade, é em geral capaz de compensá-las. Tem uma grande reserva de talentos que não são usados, dos quais você não tira proveito. Tem uma tendência a se autocriticar. Tem uma forte necessidade de que as outras pessoas o amem e o admirem. ”

Todo mundo achará isso familiar. Afinal, somos todos humanos... Esse é um exemplo clássico de  'leitura fria', um apanhado de predisposições opostas tão sutilmente equilibradas que qualquer um reconhecerá nele um grão de verdade.
Não precisa ir longe nem ser muito esperto para ver que as previsões astrológicas tocam essa música...
Mas para quem acredita - e paga por previsões - existe outra máxima: Nas relações que envolvem exploração da fé, existe sempre pelo menos um esperto e um tolo. Se você está numa relação dessas e não sabe qual é qual, sinto muito mas você é o tolo...

8 comentários:

  1. Consultei minhas previsões e os astros me disseram que seria perigoso seguir seu blog, mas como sou teimoso, vou seguir!!!]

    ResponderExcluir
  2. Caro Luiz,

    legal seu blog. Mas todo virginiano é cético, e sendo virginiano ... grande abraço! Sílvio Dahmen

    ResponderExcluir
  3. haha, grande Sílvio. Mas eu vou insistir, pois geminianos são teimosos (acho)...

    ResponderExcluir
  4. Sinto muito, mas não tem como acreditar em horóscopo. Coisa de ariano, sabe...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Gente, recebi uma ótima: Um astrólogo disse, a respeito da falta da precessão e dos outros movimentos. Ele diz que essa crítica era válida antigamente, pois hoje se usam softwares para calcular o mapa e que estes já seguem a ciência como conhecemos.
      OK, mas então a astrologia não era válida até então e agora passou a ser??? Pergunto, pois uma das outras alegações é de que a astrologia é ciência antiga... E se até então não funcionava, porque é que as pessoas acreditam????

      Excluir
  5. Respostas
    1. Mesmo assim, sabemos mais do que os que não sabem que nada sabem...

      Excluir