Voltamos com força total ao tema do Fim do Mundo!
É claro, faltam apenas três dias, segundo o que se acha que os Maias pensaram ao criar o calendário deles. Leia mais sobre isso no meu post anterior.
O mote da vez agora, passados os alinhamentos planetários, movimentos tectônicos ou outras fontes de calamidade locais, passou a ser o pretenso alinhamento galático, previsto para acontecer - adivinhem só - dia 21/12 próximo.
O besteirol afirma que ocorrerá um alinhamento entre o Sol, a Terra e o buraco negro do centro da nossa galáxia e isso será um momento único de muita energia cósmica (seja lá o que isso for) e que se repete apenas a cada 25 mil anos.
Pois é... Infelizmente essas coisas ocorrem apenas na imaginação de alguns, e ainda mais infelizmente ainda, muito mais freqüentemente que uma vez a cada 25 mil anos.
Mas vamos aos fatos:
Nosso Sol é um entre 400 bilhões de estrelas que formam a galáxia que chamamos de Via Láctea. Nossa galáxia tem o formato aproximado de um disco achatado com um centro arredondado. Mais ou menos como um CD com uma bola de gude no centro. O diâmetro é de cerca de 100 mil anos-luz e nosso sol está a uns 30 mil anos-luz do centro, ou um ligeiramente além do meio caminho entre o centro e a borda.
A galáxia toda gira, e o sol faz uma órbita em torno do centro a cada 250 milhões de anos.
Como estamos dentro do disco galático, não podemos observar diretamente o formato da Via Láctea, mas com telescópios e outros equipamentos podemos mapear a posição das outras estrelas e construir um mapa que nos mostra nossa localização.
Do nosso ponto de vista, o centro galático está na direção da constelação de Sagitário. Lá, no centro da galáxia, existe um buraco negro com massa de milhões de vezes a do Sol. Acreditamos que a maioria (se não todas) das grandes galáxias espirais possui um desses no centro.
E o tal alinhamento?
Bom, quando as pessoas falam sobre alinhamento, precisamos ser bem claros: O Sol e o centro da galáxia são dois pontos... Entre eles existe sempre uma linha reta!. Assim, um alinhamento entre os dois não faz sentido. Mas, ao se colocar um terceiro ponto, a Terra, entre eles, aí sim a coisa fica interessante e deve ser, provavelmente, algo raro.
E é! Mas não vai acontecer em 2012, nem daqui a outros 25 mil anos. Na verdade, não ocorrerá dentro dos próximos 4 milhões de anos.
A partir da nossa posição na galáxia, o sol nunca aparece próximo ao centro galático do ponto de vista da Terra. Nem a Terra aparecer próxima ao centro galático do ponto de vista do Sol. Os planos equatoriais da galáxia e da Terra não estão alinhados. No exemplo do CD, se você colocar uma moeda sobre o disco e imaginar a Terra em órbita do Sol como se ela andasse na borda da moeda, com o Sol no centro teria a impressão de que esse alinhamento ocorre. Mas a moeda teria que ficar inclinada em relação ao CD para ficar mais próxima da condição real da órbita da Terra. Nessa visão, observa-se que a Terra, o Sol e o centro galático nunca se alinham.
O mais próximo que o Sol chega do alinhamento é cerca de 6 graus, mais ou menos 13 vezes o diâmetro aparente da Lua no céu.
Em termos de alinhamento, isso é um horror.
Vai levar mais de 4 milhões de anos para que o Sistema Solar se mova em torno do centro galático de modo a permitir que se veja o Sol projetado sobre o centro da galáxia.
O que vemos, duas vezes ao ano, é a passagem do Sol sobre o disco galático. E isso está ocorrendo assim todos os anos desde o início do sistema solar, há uns bons 5 bilhões de anos. E nada de muito especial acontece nesses momentos, nota-se.
Mas então.. de onde vem todo esse auê?
No dia 21 de dezembro, ocorre o solstício de inverno para quem está no hemisfério norte, ou de verão para quem vive no hemisfério sul. Nesse dia, em que ocorre a maior diferença de duração entre o dia e a noite, o Sol estará alinhado com o disco galático da perspectiva da Terra (mas não alinhado com o centro).
Mas, a 2000 anos atrás, o Sol não seria visto nessa posição devido ao movimento de precessão da Terra. Esse movimento faz com que a posição aparente de todas as estrelas do céu mude em um dia a cada 72 anos. Isso dá quase 28 dias de diferença nesses 2000 anos. O alinhamento aparente do Sol com qualquer ponto do céu numa data específica só se repetem a cada 25.772 anos.
É daí que saem esses números que transportam o verniz de realidade ao besteirol pseudo-científico.
Quanto aos Maias, parece haver evidências convincentes de que eles conheciam o desvio causado pela precessão. Realmente, há indicações de que eles sincronizaram vários de seus calendários de modo a alinhar constelações importantes com o Sol, de modo a coincidir com eventos mitológicos importantes.
É o famoso jeito de escrever a profecia depois de ocorrida, demonstrando que eles eram mesmo bem espertos... E a observação desses fatos estava bem dentro do alcance da tecnologia e ciência deles, de modo que, se eles puderam calcular para trás o movimento dos astros, poderiam com a mesma facilidade calcular para frente e prever o futuro (das posições dos astros, que fique claro!).
Por exemplo, se eles notaram que o Sol estava sobre o disco galático (ou uma de suas faixas escuras visíveis, o que é mais fácil de se observar) e documentaram isso, depois de 144 anos a data estaria errada em 2 dias. Após algumas gerações, seria fácil notar que o erro se acumulava e que não era provável ser erro de contagem de dias, mas devido a algum ciclo natural.
Fica a dúvida de saber se eles ajustaram o calendário de ciclo longo (Bak'tun) para que terminasse um ciclo agora em dezembro de 2012...
De qualquer modo, os efeitos físicos são nulos.
Desejo a todos um feliz 2013, alinhado e iluminado com a verdade!
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